**Um Visitante Indesejado: Quando a Hospitalidade Encontra uma Proibição**
A minha mãe quer vir visitar-nos durante a ausência da minha sogra, mas esta proíbe qualquer presença «estranha» na sua casa.
Eu, Leonor, 25 anos, estou no meio de uma situação que me parte o coração. O meu marido, João, e eu vivemos no apartamento da mãe dele, Dona Margarida Sousa, numa pequena cidade perto do Porto. Não é uma solução temporáriavamos ficar aqui pelo menos até ao fim da minha licença de maternidade. Há três meses, dei à luz a nossa filha, Beatriz, e desde então a nossa vida gira em torno dela. Mas em vez de harmonia familiar, sinto-me como uma prisioneira numa casa onde a minha sogra dita as regras e a minha própria mãe nem sequer pode aparecer.
O apartamento da Dona Margarida é espaçosotrês quartos, cozinha ampla, varanda Daria para alojar quatro pessoas sem stress. O João até tem direito a uma parte do imóvel, mas mesmo assim ficamos num único quarto, para não «incomodar». Estou a amamentar a Beatriz, dormimos juntos, e toda a gente parece satisfeita. Mas viver aqui tornou-se uma batalha diária. A Dona Margarida não é fã de limpeza, então o trabalho todo cai sobre mim. Antes do parto, passei horas a limpar anos de pó, e agora mantenho a casa impecávelcom um bebé, é obrigatório. Roupa, engomar, cozinhar Tudo sou eu. A Dona Margarida? Nem pisa a cozinha. Felizmente, a Beatriz é calminhadorme ou balbucia no berço enquanto eu me desdobro como uma formiga operária.
A minha sogra não mexe um dedo. Antes, ao menos lavava a loiça, mas agora? Nada. Deixa os pratos sujos em cima da mesa e desaparece. Eu calo-me para evitar conflitos, mas por dentro estou a ferver. É tão difícil enxaguar um prato depois da sopa? Uma coisinha mínima, mas que me esgota. Limpo, cozinho, e ela? Vê televisão ou fala ao telefone. Faço de tudo para manter a paz, mas cada dia cansa-me mais.
Recentemente, a Dona Margarida anunciou que vai ao Algarve no outono. A sobrinha vai casar-se, e ela quer aproveitar para visitar as irmãs e primos. Fiquei radiante: finalmente, eu, o João e a Beatriz sozinhos, como uma família a sério! No mesmo dia, a minha mãe, Lurdes, ligou-me. Ela vive longe, perto de Braga, e ainda não conheceu a neta. Sentia saudades e queria vir. Eu quase saltei de alegriafinalmente, poderia abraçar a Beatriz, e eu sentir-me-ia um pouco mais em casa. Dupla felicidade, e mal podia esperar para contar ao João.
Mas a alegria durou pouco. Quando mencionei a visita da minha mãe, a Dona Margarida fez cara de poucos amigos. «Não vou permitir que estranhos entrem em minha casa quando eu não estiver!», disse. Estranhos?! Estava a falar da minha mãe, a avó da Beatriz! Fiquei pasmada. Como é possível tratar a minha mãe assim? Elas não são próximas, mas viram-se no nosso casamento. Na altura, vivíamos num apartamento alugado, e a minha mãe ficou connosco porque a Dona Margarida já tinha parentes hospedados. Foi há três anos, mas isso faz dela uma desconhecida?
A Dona Margarida fechou-se. Acusou-me de andar a combinar coisas com a minha mãe, como se estivéssemos à espera da partida dela para «tomar posse» do apartamento. Ela já tinha comprado as passagens, mas agora desconfia que a visita da Lurdes não é coincidência. «A tua mãe não deu notícias em dois anos, e agora aparece do nada? Muito conveniente!», gritava. Tentei explicar que ela só queria conhecer a neta, mas a Dona Margarida não cedeu. Ameaçou cancelar a viagem para «vigiar» o seu património. Como se fosse um palácio cheio de ouro, e não um apartamento normal com papel de parede desbotado!
Contei tudo à minha mãenão aguentei guardar para mim. Ela ficou triste, mas sugeriu adiar a visita para o verão, para evitar confusão. E a Dona Margarida cancelou mesmo as passagens. Agora, anda pelo apartamento como uma sentinela, a observar cada movimento meu, como se eu fosse uma ladra em potência. Sinto-me humilhada. A minha mãe, que só queria abraçar a Beatriz, tem de adiar por causa dos caprichos da sogra. E eu, que vivo aqui legalmente, no contrato de arrendamento, não posso sequer convidar a minha família.
O coração aperta-me. Faço tudo por esta casa: limpar, cozinhar, manter o ambiente E em troca, só recebo desconfiança e proibições. O João evita meter-se no assunto, mas nota-se o desconforto. Quem tem razão? A Dona Margarida, que protege o apartamento como uma fortaleza? Ou eu, que só quero que a minha mãe conheça a neta? A minha mãe não é uma estranhaé família. Mas a Dona Margarida vê-me como uma ameaça e os meus desejos como armadilhas. Estou exausta de viver sob o controlo dela, exausta de me sentir como uma convidada no que devia ser o meu lar. Esta situação magoa-me, e não sei como sair dela sem destruir tudo.